terça-feira, 7 de julho de 2015

Cruzando o Caminho de Traficantes de Meninas Indefesas.

 

         Sobre Cruzando o Caminho do Sol.
    É exatamente como diz a citação na capa "Um romance belíssimo com uma importante mensagem".
Esse livro foi um dos eventos que me tirou da zona de conforto cerebral. Assim como pessoas, séries, filmes que me fizeram questionar a realidade em que vivo, este livro me fez olhar para a cidade de noite, dentro de cada beco escuro e imaginar se lá dentro não existe um grupo de meninas sendo presas contra a própria vontade e violentadas. Esse livro fez-me pensar sobre a situação do meu país, sobre como as pessoas nele -especialmente as mulheres/meninas- são exatamente como nós. Poderiam ser nós. Sua filha. Sua irmã. Qualquer uma.
     No entanto não foi somente a desconfiança que despertou em mim, mas também a minha compaixão humana ao observar -com uma narradora onisciente- como cedendo carinho nas horas de maior escuridão podem até salvar uma vida. Mesmo se encontrando no fogo do inferno, no deserto da solidão, no gelo do abandono, no mar da dúvida ou no tornado da violência, Sita Ghai me ensinou a segurar as mãos daqueles que sofrem e compartilhar o calor. Mesmo com uma simples frase "Eu vou rezar por você" faz uma grande diferença para as pessoas. Mostram-nas que no meio das desgraças ainda há alguém que se importe, mesmo que seja uma estranha.
        Cruzando o Caminho do Sol não somente abre seus olhos para um universo obscuro -que alguns nem imaginam que exista de verdade- mas também fornece meios para contribuir no combate desta realidade. Sim, parece uma luta perdida. Os traficantes e envolvidos as vezes nem fazem isso por prazer, mas pelo dinheiro, porque é LUCRATIVO, e como o próprio livro fala "O tráfico vai acabar quando homens deixarem de comprar mulheres". Quando isso se tornará uma realidade? Talvez seja até impossível, no entanto vale a pena lutar pois trata-se de uma vida salva, mais uma vida resgatada das garras dessa monstruosidade.
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       Fazendo uma análise sobre outro aspecto do livro, ele é muito bem escrito, bem com várias notas e o escritor o fez com tanta habilidade que nem parece que é seu primeiro livro. Recomendo muito.


sábado, 11 de abril de 2015

Queria ser Homem.

    Hoje eu trago algo diferente. Não se trata de um texto de cunho feminista, cheio de mimimi para mobilizar as pessoas. Hoje quero despertar outro tipo de reflexão e outro tipo de sentimento.
    Os homens sempre foram os grandes culpados pelas maiores catástrofes e os atos mais cruéis cometidos durante a historia da humanidade, no entanto, também são protagonistas de grandes feitos, de nobreza e de honra. Existe muito além na identidade masculina que a sociedade nos prega a pensar, além de sexo e comida. E é esse ponto que eu gostaria de invocar, pois acredito que são seres humanos com capacidade além do que demonstram no dia a dia, algo que raramente se vê.
    Por isso, hoje trago a vocês um poema.

Queria ser Homem.

Queria ser homem
Só para saber.
Porquê todos dizem que é muito simples,
Mas é só o que parece ser.

Dentro da mente masculina,
Procuro entender
Se é com duas ou uma cabeça
Que faz o pensamento aparecer.

Queria ser homem
Só para saber
Se existe tanto sentimento
Que não se deixa transparecer.

Se é somente torpe desejo
Que relutam em conceber.
Se há sentido em tanta ânsia
Que não seja apenas por puro prazer.

Queria ser homem
Só para saber
Onde se encontra a natureza
-Que tão doce-
Se presta a esconder.

De baixo dos olhos pesados,
Um brilho que não se vê.
De baixo da grossa barba,
Um coração que abafa o arder.

Nesse mundo de homem
Não posso querer,
Sendo mulher,
Com esses mistérios enternecer.


    Eu gosto do feminismo porque não quero ser só objeto, quero fazer deles objeto também.



quarta-feira, 18 de março de 2015

A DIVINA COMÉDIA - Uma visão de Orvalina A. Teixeira

    Na postagem de hoje farei uma breve visão -minha- sobre o Vestíbulo e os três primeiros círculo do inferno, descritos no livro de Dante Alighieri. Vai que você se identifica com algum...

~*:.:*:.:*~
Vestíbulo.
Caronte. É ele que dá carona aos danados.
(Sacou o trocadilho?)
    Dante e Virgílio iniciam sua jornada pelo Vestíbulo infernal (isso me soa familiar, mas enfim). O pessoal do vestíbulo são aqueles que não deram um foda-se pra nada, mais finamente chamados de ignavos. Eles não fizeram nada pra ferrar ninguém, nem eles mesmos, mas também não se importavam em fazer o bem, tipo dar esmola pra mendigo, curtir as fotos das crianças necessitadas no facebook, assinar aquela petição do Avaaz para ajudar os gnomos da Tanzânia a conquistarem seu direito de receber auxílio matinho do governo. Como punição, esse povo passa o dia inteiro sendo picados por vespas e obrigados a correr atrás de uma insígnia. Vai ver eles estão no mundo Pokémon ou sei lá. As almas que não correspondem aos ignavos podem se dirigir ao rio Aqueronte onde farão um agradável passeio de balsa com um velhinho simpático chamado Caronte até suas próximas penas.
    Dante fica enjoado com o passeio e acaba tirando um cochilo

1º Círculo.
    Vulgo Limbo, é onde fica a galera gente boa, as crianças e aquele cara legal que você mandou pra friendzone. Aqui não tem tortura, mas também não tem a curtição do paraíso, é o pessoal que fica na pista do show, lá no finalzinho. Ok, se eles são bonzinhos e horaram as ciências por que não estão se acabando nas nuvens do paraíso? É preciso lembrar de quem estamos tratando aqui? Paraíso é o clubinho privado de Javé, quem não tem convite, não entra, ou seja, se você não tem batismo, você está fora!
"Eu não quero saber se você é Ganghi sei-lá-o-que, xispa daqui!"
-São Pedro recebendo Mahatma Gandhi.
    O pessoal do limbo passa a eternidade morrendo de tédio sem nem mesmo ter um celular pra tuitar  isso (provavelmente estão numa festa de família infinita, no meio da roça).
    Virgílio é responsável por Dante para guiá-lo através dos nove círculos do inferno, mas antes, ele apresenta ao seu discípulo a patota nerd que joga RPG e faz poemas toda quinta-feira: Homero, Horácio, Ovídio e Lucano; eles acabam aceitando Dante no clubinho (pra não ficar chato com o amigo Virgílio, né?). Mas não foram embora antes de pegar um autógrafo com  várias personalidades populares, tipo Sócrates, Platão, Demócrito, Tales, Euclides, Hipócrates, Ptolomeu, etc, etc.

2º Círculo.
Minós, responsável por determinar onde vão os pecadores.
É famoso pelo seu rabo.
    E quem está lá para receber a nossa dupla dinâmica de prontidão? Tio Minós, pronto pra dar um bicudo na bunda de Dante ao perceber que ele não atende o principal requisito para entrar no inferno, que seria... ESTAR MORTO. Ainda bem que Virgílio aparece pra aliviar a barra de Dante levado um papo cabeça com Minós.
"Vai, cara, libera meu brother aí, ele já é de maior, tá comigo, eu me responsabilizo.
-Não sei..., é expressamente proibida a entrada de pessoas vivas aqui na quebrada.
Eu tenho autorização do Chefe lá de cima, tu não vai querer ver o Chefe na pira, né?
-Tá bom, tá bom. Mas tem que por esse crachá de visitante aqui."
    Quem sofre no segundo círculo do inferno? Os luxuriosos. Como eles sofrem? Eles são jogados dentro de uma espécie de redemoinho de vento, mas mais parecido com um liquidificador de almas no qual eles ficam rodando e rodando violentamente por toda a eternidade. Dentro dessa grande bagunça, Virgílio aponta a Dante mais uma pá de celebridades (e subcelebridades também), as mais ilustres são a rainha Cléo e o galã de guerra Aquiles. Dentro dessa massaroca de almas girando sem parar, Dante avista um casal conhecido e começa a puxar um papo com eles, mas só a mulher -Francesca- dá a palavra (por que homens são tão esquisitos e retraídos?). Antes de começar a conversar, ele pergunta se ela pode dar uma pausa no seu castigo eterno e, ao que parece, se você encontra um fã seu no inferno, você pode dar um break para papear com ele, o tio Luci abre essa exceção.
    Depois de Francesca contar toda a sua trágica história de amor para Dante, este fica tão comovido a ponto de desmaiar.

3º Círculo.
    Sério, quem vocês acham que carrega Dante pra lá e pra cá quando ele apaga? Virgílio merece um aumento nessa agência de turismo.
    Dante já acorda na 3ª quebrada, a dos gulosos (Ah lá minha turma!), que passam a eternidade chafurdados na lama feito porcos e tomando chuva de granizo na cara direto. Peraí, ainda tá muito light, eles precisam de um castigo a altura do pecado, algo mais pesado (gostaram dos meus trocadilhos?). Sabe o Cérbero? Provavelmente você o conhece de Harry Potter ou Percy Jackson (seu aculturado). Caso não, ele é um vira-lata gigante de três cabeças da mitologia grega (no inferno cristão? Hey, não fui eu quem escreveu essa joça). Imagina que maravilha, um cão demônio latindo no teu ouvido 24 horas por dia e vira e mexe ele arranca um braço teu ou a cabeça, pisa em cima de você, te estilhaça todo. Agora sim é um castigo digno.
    Quado Cérbero vê Dante e Virgílio, ele vai correndo ao ataque dos dois, mas Virgílio é zica, ele pega um punhado de lama e joga na cara do pulguento e manda ele ir pra casinha. Achavam que teriam um passeio tranquilo pelo terceiro círculo, mas um velho colega -Ciacco- de Dante vem cumprimentá-lo e, de novo, dá aquela pausa marota pra falar com o amigo sobre o que vai ser da política em Florença. Dá o toque do fim do recreio e os dois voltam aos seus respectivos afazeres, Ciacco para a lama e Dante para seu tour pelo inferno.

Quem é o bom menino?

Alguns livros são como pessoas. São até interessantes se você prestar atenção.

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Uma breve observação num caderno de criança: a Família.

     Eu faço minhas unhas na casa de uma amiga da minha mãe. Ela tem três filhos: dois meninos (mais velhos) e uma garotinha, cerca de seis anos. Quando minhas unhas são finalizadas, eu me sento num sofá na mesma sala para esperar minha tia fazer as unhas dela.
    Enquanto eu esperava, fui foleando os cadernos da menina, que estavam empilhados próximos a mim. As matérias eram básicas: matemática, português, ciências, ética e cidadania... Ética e cidadania? Eu não me lembro dessa matéria nos meus tenros tempos de escola. Decidi visualizar melhor. Dentre temas muito simples -que, para mim, deveria ser dever dos pais- eram ensinados a  respeitar o coleguinha, ajudar a quem precisa, ser educado com as pessoas, o básico para um ser humano conviver bem em sociedade. Porém, percebi uma atividade deveras interessante.
   
    Ao que parece, a professora passou um filme aos alunos e pediu-lhes que escrevessem tendo a família como foco dessa redação primitiva.

    O filme escolhido foi Tarzan, e ela escreveu o seguinte "A família é o nosso porto seguro. Não importa como ela é formada e sim em que ela se baseia...
   
 ...No amor.
    
    O que me chamou atenção aqui é que mesmo numa cidade pequena é possível observar uma visão muito animadora no que diz respeito à igualdade LGBT nesse campo delicado e fundamental que é a família. 
    Todos nós já vimos -ou espero que sim- Tarzan (da disney) e sabemos que os pares formados são heterossexuais, contudo ao dar ênfase nas palavras "não importa como ela é formada" abrimos um leque de diversidade no mundo real e a partir delas fica mais fácil explicar para as crianças essa diversidade, construindo uma sociedade que aceite melhor um casal com dois pais ou duas mães ou que um dos pais seja trans, talvez.
    Essa atividade, supostamente dirigida pela professora, ressalta mais a importância do amor e da segurança que a família deve passar do que seu formato. Eu não sei se aconteceu, mas também seria interessante que a professora citasse diferentes tipos de família que existe, espero que ela tenha citado, apesar de eu compreender o risco que seria passar isso para o caderno das crianças sem um apoio do governo. É por isso que cartilhas que mostram famílias diferentes não deveriam ser linchadas e vistas como uma tentativa de homossexualizar nossas crianças (o que é ridículo, porque não se vira homossexual), mas serem aceitas como ferramente básica de cidadania.


Como esse ótimo exemplo que a Alemanha nos dá (além de futebol)
Simples e sem erotização.
    Ao final da lição, há um desenho. É de uma família heterossexual? Sim, mas não há em momento algum no texto que ela deve ser formada por pai e mãe, homem e mulher, e isso já me deixou bem otimista.