sexta-feira, 18 de março de 2016

O que há de engraçado em Bojack Horseman?

    Pra começar, faz mais de um ano que eu não escrevo. Nem para este blog, nem para as pessoas, nem para mim mesma, com exceção de um poema que eu deixei rabiscado num caderno. Porém hoje tive vontade de escrever sobre este desenho chamado "Bojack Horseman", que me fez pensar porque ele é tão diferente dos outros desenhos adultos que eu conheço. 
    Não chega a ser tão escroto quanto South Park ou "família" como The Simpsons. Todos estes desenhos são diferentes, eu sei. Desde Futurama, passando por Archer até chegar em Family Guy. Contudo Bojack tem sua peculiaridade. Ele não é um idiota atrapalhado ou um ser maligno -sim, Eric C., este é você. Ele não é um personagem fora de sua realidade, fora da realidade do que é o mundo que conhecemos (uma técnica bastante usada pelo canal Porta dos Fundos). 
    Ele é infeliz.
    Ele é infeliz, frustrado e autodestrutivo. E o que tem de engraçado nisso? Talvez os animadores quiseram atirar no escuro e fazer uma comédia no qual o humor não está em piadas engraçadas, trocadilhos, ou ações e cenas cômicas (apesar de esses elementos também estarem presentes no programa), mas fazer o telespectador esquecer da sua vida para se concentrar em alguém cuja vida pessoal é mais ferrada que a dele.

    Bojack não é um fracassado. Ele é rico, chamado para programas de TV, filmes, teatros, faz comerciais, tem uma biografia e até uma namorada que o ama e amigos verdadeiros; mas ele consegue estragar tudo isso sendo inseguro e grosseiro. Nos anos 90 ele tinha um famoso programa de TV chamado "Horsing Around" e esta foi a maior fonte de seu sucesso, porém nem mesmo assim ele era satisfeito com sua vida ou com ele mesmo. 
    Tudo começou com uma péssima infância, pois era filho de pais que não se amavam e brigavam o tempo todo e criticavam-no o tempo todo e desde então, ele virou um fumante alcoólatra que critica e culpa todas as pessoas a sua volta. É mesmo querendo assumir uma postura completamente diferente na sua viva, o fantasma do seu passado vem para lembrá-lo de sua sina.

    Bojack vive cenas tocantes -e até perturbadoras- querendo se encaixar no mundo e com as pessoas. Apaixona-se por uma mulher cujos sentimentos são tão subversivos quanto os dele. Também infeliz com sua vida e sua careira, Diane encontra em Bojack uma pessoa para conversar, uma pessoa tão irritada com tudo como ela mesma, porém ela sabe que não pode ficar com alguém que seja ela. Ela precisa de alguém como Sr. Penutbutter, seu namorado. Um homem que é o extremo oposto de Bojack e Diane. E mesmo que ela chegue a cometer erros que o fariam extremamente triste, ele apenas a acolhe de volta.

    Bojack nos ensina que você tem que aceitar a si mesmo pelo pior lado que existe. Aceitar todas as coisas ruins dentro de você e viver cada dia, um após o outro e as pessoas que estão a sua volta na verdade te aceitam assim a menos que você não transpasse um limiar. Ok, eu sei, é uma péssima lição de moral, nem um pouco otimista ou inspiradora, mas esse é Bojack. Você não pode esperar mais dele. 
    E talvez você não deva esperar mais das pessoas.