quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Sobre Apressar o Tempo.

    Eu não escrevo há muitos meses, mas aí vai.
   Eu venho notando uma tendência cada vez maior em nossa sociedade de apressar tudo que conseguimos. Tudo.
    Qualquer atividade que seja deve ser apressada. Passeio, o ato de ver um vídeo, conversar. Tudo deve ser otimizado ao máximo para que não gastemos nosso precioso tempo.
    Quem minimamente presta atenção no que eu digo sabe que eu odeio falar qualquer frase que dê sentido de "hoje em dia", muitas vezes referindo ao hoje de forma depreciativa. Porém eu tenho segurança em falar que tudo hoje em dia tem que ser apressado.
    As pessoas não só não enxergam tempo para nada e andam correndo para seus destinos como também é possível enxergar isso no que gostamos de assistir. Vou dar exemplos para reflexão, um rápido e um mais elaborado. O rápido seria nossa inclinação a não ver vídeos longos. Não gostamos e não queremos conteúdo prolixo de forma alguma. Se precisa de mais de 10 minutos, já não vale a pena, a não ser que o locutor possua estratégias para chamar nossa atenção. Vídeos são acelerados ou editados para minimizar cenas que não levem diretamente ao objetivo final e quando não são, nós mesmos tratamos de avançar até que algo "importante" aconteça.
    O exemplo mais elaborado - e que me deixou pasma - é como essa pressa se reflete em nossa maneira de usufruir do entretenimento. Os filmes têm um ritmo rápido e estimulante, qualquer cena que não contribua com o enredo não merece mais de 2 minutos de duração. O que me impeliu a escrever este texto, no entanto, foi ver um episódio na netflix de uma série que eu gosto.
    Nesta série, há cenas antes e após a abertura, assim a empresa dá ao cliente a opção de pular a abertura. Outras séries não seguem esse arranjo, sendo assim, o episódio termina e já pula para o próximo (sem abertura, direto para o episódio). Eu acho sempre muito importante esse momento da abertura. Um momento que precede as aventuras ou desventuras da pessoa protagonista e seu círculo social. Um momento para preparação do que está por vir. E dependendo da produção e quem se encarrega pela direção, cada abertura pode apresentar um detalhe diferente. Pode ser constante, como em "Os Simpsons", por temporada, como em "Bojack Horseman" ou uma surpresa como "Rick and Morty".
    Acontece que assistindo esse determinado episódio que citei no meio do texto, notei como o encerramento também tem um papel muito importante. O encerramento e a apresentação dos créditos é uma pausa. Um momento de reflexão. Algumas -belas- vezes contribui para a imersão do espectador à realidade dos seus personagens. Neste episódio em questão, o encerramento causa sensações confusas no espectador, pois dá a sensação de continuidade misturando os sons da história em andamento com a música de encerramento e os créditos. Infelizmente, nos tempos de afobação em que vivemos, a netflix dá apenas 5 segundos para decidirmos se queremos assistir aos créditos ou aproveitar a finalização do episódio, já presumindo que a segunda opção está fora de questão pela maioria dos espectadores.
     Terminar um episódio sem o tempo do encerramento é fechar-se à breve reflexão que os produtores da série proporcionam. Seja ela sempre a mesma ou uma música diferente em episódios mais marcantes. Observando essas mudanças, não consigo pensar algo diferente à conclusão de que vivemos no automático (e neste caso eu não posso -e não quero- falar se isso ocorre mais que antigamente) aliado à pressa que temos em cada dever, atividade, momento de nossas vidas, gerando ansiedade e vazio constante.
 

(Eu tentei achar um vídeo com os créditos todos, mas não consegui)


E claro: Você é livre e não é errado viver na  ligeireza dos tempos atuais.